Após bombardeios, Trump fala em ‘mudança de regime’ no Irã
- Vilmar Bueno, o ESPETO

- 23 de jun.
- 3 min de leitura

Mundo
Menos de 48 horas após os Estados Unidos atacarem as instalações nucleares iranianas com as bombas mais poderosas de seu arsenal, o presidente Donald Trump falou abertamente em derrubar o regime dos aiatolás. “Não é politicamente correto usar o termo ‘mudança de regime’, mas se o atual regime iraniano não é capaz de FAZER O IRÃ GRANDE NOVAMENTE, por que não haveria uma mudança de regime?”, escreveu, com direito a maiúsculas nas redes sociais. A declaração vai na direção contrária do que dizem diplomatas americanos e o próprio vice-presidente J.D. Vance, para quem os bombardeios buscaram apenas destruir a capacidade nuclear iraniana. Na noite de sábado, Trump sequer esperou o retorno dos bombardeiros B2 para declarar vitória. Em um pronunciamento à TV, o presidente disse que o programa nuclear iraniano havia sido “obliterado" e renovou as ameaças de novos ataques caso o Irã atinja tropas americanas na região. (CNN)
Ainda não é possível ter certeza da extensão dos estragos causados pelos bombardeios. As forças americanas utilizaram ao menos 14 bombas GBU-57 - de 14 toneladas cada - lançadas pelos superbombardeiros B2-Spirit, além de mais de 30 mísseis Tomahawk disparados pela Marinha americana a partir do Golfo Pérsico. De acordo com fontes oficiais tanto dos Estados Unidos quanto de Israel, o nível de destruição dos centros de enriquecimento de urânio ainda está sendo avaliado. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não identificou volumes consideráveis de contaminação nuclear nas áreas atacadas, o que pode indicar que o Irã tenha movido seus estoques de urânio enriquecido para uma localização ainda desconhecida. Para muitos analistas, os ataques irão reforçar a decisão do regime dos aiatolás de buscar uma bomba nuclear. (New York Times)
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu ainda na tarde de domingo para discutir as implicações dos ataques americanos ao Irã, que pediu a reunião. Rússia e China condenaram os ataques, enquanto os Estados Unidos não deram sinais de que apoiarão um pedido de cessar-fogo. O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o ataque às instalações iranianas "marca uma escalada perigosa em uma região que já está afetada com o conflito e a instabilidade”. Enquanto isso, o ministro do exterior do Irã, Abbas Araghchi, chegou hoje a Moscou para articular o apoio russo a um cessar-fogo. (Washington Post)
Em seu primeiro comunicado desde o ataque americano, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, direcionou suas ameaças a Israel. “O inimigo sionista cometeu um grave erro e um grande crime. Ele merece ser punido e será punido”, publicou em sua conta no X. (Guardian)
O Irã retaliou disparando uma salva de mísseis balísticos contra Israel. As forças de defesa israelenses conseguiram interceptar alguns dos mísseis, mas não foram capazes de parar todos os disparos, reforçando a tese de que o Domo de Ferro pode estar ficando sem munição. Em Teerã, o parlamento iraniano defendeu que o país feche o Estreito de Ormuz, por onde passam diariamente 20 milhões de barris de petróleo, em represália aos ataques sofridos na noite de sábado. Os líderes iranianos voltaram a ameaçar não só Israel, mas também alvos e cidadãos americanos na região e até dentro dos EUA e disseram que continuarão a enriquecer urânio. (Haaretz)
Para ler com calma. A decisão de Donald Trump de bombardear o Irã certamente terá muitas repercussões no Oriente Médio. Até agora, mais perguntas do que respostas emergiram do ataque sem precedentes na conturbada história de relações entre os dois países. É difícil prever como as forças regionais irão se reorganizar a partir de agora. A única certeza, por enquanto, é de que nada será como antes. (New Yorker)
O Brasil condenou os ataques americanos ao Irã por meio de uma nota divulgada pelo Itamaraty. No comunicado, o Ministério das Relações Exteriores classificou o bombardeio como uma violação da soberania iraniana e do direito internacional. Segundo o Itamaraty, “ações armadas contra instalações nucleares representam uma grave ameaça à vida e à saúde de populações civis.” O ex-chanceler Celso Amorim, hoje conselheiro para assuntos internacionais do presidente Lula, disse temer que a escalada da violência no Oriente Médio saia de controle. “Eu nunca vi um momento tão tenso como este.” (UOL)






