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O Congresso teve uma renovação efetiva de apenas 8% de suas cadeiras nas eleições do último dia 2. O resultado das urnas mostrou que a maioria dos deputados e senadores eleitos já ocupou mandatos, cargos de alto escalão do governo ou é herdeira de tradicionais famílias da política. Sem contar essas situações sobram apenas 39 deputados sem vínculo político que tomarão posse em 2023. No Senado, só um senador eleito nunca ocupou antes um cargo público.
A posse dos deputados, em fevereiro, provocará a troca de 45% dos assentos na Câmara. Mas essa substituição esconde vínculos que representam a continuidade dos grupos dominantes da política brasileira, como indica levantamento feito pelo Instituto Millenium.
O estudo só considera como renovação quem nunca teve mandato. Para os autores, o resultado das urnas não apenas mantém a atual configuração do jogo político em Brasília como dificulta a entrada de novos nomes no Legislativo.
Entre os eleitos há quem vá assumir sob o peso de dinastias, como é o caso das famílias Arraes e Campos, em Pernambuco. João Campos, filho de Eduardo Campos; e Marília Arraes, neta de Miguel Arraes, chegaram à Câmara em 2018. João foi para a prefeitura do Recife e Marília tenta agora ser governadora, mas o clã não ficará sem representantes no Congresso. Pedro Campos (PSB), 26 anos, irmão de João; e Maria Arraes (Solidariedade), 28, irmã de Marília, estão entre os deputados eleitos.
Velhos conhecidos do Congresso, como Eunício Oliveira (MDB), deputado eleito pelo Ceará, aparecem no meio das “novidades”. O currículo de Eunício inclui a presidência do Senado e dois mandatos anteriores na Câmara. Herdeira da principal família política do Maranhão, Roseana Sarney (MDB) também foi eleita deputada, após ter sido quatro vezes governadora, além de senadora. Antes, Roseana passou pela Câmara, assim como Eunício.
Padrinhos
Outros “novatos” não trazem a política no sangue, mas foram apadrinhados após ocupar altos cargos em ministérios ou secretarias, como Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde; e Mario Frias, que foi secretário de Cultura no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Isso sem falar de deputados estaduais, vereadores e daqueles que já estiveram em outros postos da administração pública.
“Há uma tendência de deixar o Congresso menos fragmentado, com nomes estabelecidos. Isso traz uma certa estabilidade para o jogo político, mas oZ modelo prejudica novos entrantes”, afirmou o cientista político Diogo Costa, um dos autores do estudo, ao lado da jornalista Priscila Chammas e do cientista de dados Wagner Vargas. Para Costa, a baixa renovação se deve à concentração de recursos públicos para financiar quem já faz parte dos círculos políticos. Na lista dos eleitos, os candidatos à reeleição receberam 80% mais recursos do que quem não disputou novo mandato. “O risco é esse modelo ficar engessado e se tornar um padrão”, observou o cientista político.
No Senado, dos 27 candidatos eleitos no último dia 2, 22 não estão na Casa atualmente. A maioria, no entanto, é formada por políticos experientes, como os ex-governadores Flávio Dino (Maranhão), do PSB, e Renan Filho (Alagoas), do MDB, primogênito do senador Renan Calheiros. Apenas um candidato que venceu a disputa nunca ocupou cargo público: trata-se do empresário ruralista Jaime Bagattoli (PL-RO), apoiador de Bolsonaro.
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