top of page
Foto do escritorVilmar Bueno, o ESPETO

Colapso no hospital - Cinco pacientes transferidos na madrugada



São Bento do Sul

As equipes de saúde tiveram uma madrugada de muito trabalho, em São Bento do Sul, neste sábado (22). Devido ao colapso no Hospital e Maternidade Sagrada Família, ainda na noite de sexta-feira iniciou-se um trabalho intenso para buscar a remoção de pacientes para outras cidades onde existem leitos de UTI disponíveis.


Para conseguir levar os pacientes a outros hospitais, além de UTI móvel do Samu, a Prefeitura contratou serviço de UTI móvel particular. O último paciente foi levado na manhã deste sábado para o hospital de Itajaí. Devido à situação crítica, o Sagrada Família iniciou um protocolo de atendimento no qual somente casos de extrema gravidade passaram a ser atendidos no local, e uma reunião de emergência do comitê de crise da Covid-19 foi realizada.


Durante o encontro online deste sábado, o superintendente do hospital, Renato Figueiredo, explicou que devido à transferência dos pacientes foi possível liberar a sala vermelha para atendimento de casos mais graves, no entanto, o Sagrada Família não tem leitos disponíveis para atender pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19.

Figueiredo explicou que dois pacientes ainda estão sob avaliação médica e caso necessária internação deles por sintomas Covid-19, ambos terão que ser transferidos para outros hospitais. O balanço do hospital mostra que existia nesta manhã somente um leito disponível para atender paciente com outras doenças que não seja Covid. Na ala da maternidade, como duas crianças receberam alta médica, existem quatro leitos para atendimento de emergências obstétricas e pediátricas.


A situação dos leitos de UTI é ainda mais complexa. Dos 12 leitos existentes no Sagrada Família, todos estão ocupados, sendo que 11 deles são por pacientes com Covid-19. “A situação não está nada confortável. A noite foi de muito trabalho e nossa equipe está exausta”, disse.


Renato contou, na reunião do comitê, que nesta sexta-feira, quando foi iniciado o plano de contingência no hospital, somente um respirador estava disponível. E esse equipamento era o reserva para a UTI, pois como são máquinas, elas podem falhar e por isso sempre existe algum backup. “Foi muito tenso, muito complexo, pois se qualquer paciente precisasse entrar em suporte respiratório, não teríamos. Poderíamos ter pedido pacientes no nosso hospital”, contou.


O prefeito Antonio Tomazini, que é médico, lembrou que está há 32 anos morando em São Bento do Sul e nunca imaginou que viveria uma situação como a atual, com o hospital completamente lotado.

Desespero - A médica Sabrina Garcia Schwingel, coordenadora da equipe assistencial de Covid-19 da instituição, citou a tensão ao longo de toda a semana, quando a situação foi se intensificando até chegar sexta-feira, quando o hospital chegou ao seu limite. Ela contou que devido à superlotação, um paciente com 50 anos de idade que estava na enfermaria precisou ser intubado às pressas e quando ele foi levado para o setor de internação, não existiam respiradores disponíveis.


Para que o paciente não morresse, a equipe médica precisou fazer a respiração dele manualmente, utilizando um ambu. “A semana foi intensa, mas ontem foi um dia terrível. Foi desesperador intubar e não ter suporte depois”, lamentou. Para ela, a situação atual é reflexo do Dia das Mães, com lojas e ruas cheias, além das confraternizações do fim de semana. “As pessoas precisam entender melhor o que está acontecendo. Está em colapso mesmo e vai morrer na porta do hospital”, alertou.


Ela alerta que os pacientes ficam muito tempo em casa antes de procurar ajuda médica, e quando chegam ao hospital, o comprometimento pulmonar já exige medidas mais intensas. A médica ainda alerta sobre a gravidade dos casos, apesar do número de casos ativos estar mais baixo do que até pouco tempo, os pacientes são mais jovens e a situação é mais grave, e Sabrina lembra que tudo o que for feito agora vai se refletir daqui a 14 dias.


A médica e responsável pela Central de Monitoramento, Andrea Cristina Batista Betkowski Duvoisin, diz que muitos pacientes jovens apresentam uma leve dor de garganta e acabam não dando atenção. Então vem a coriza e a partir de então os sintomas se agravam. Para ela, logo ao primeiro sintoma as pessoas devem permanecer isoladas por 10 dias.

O médico pneumologista Luiz Moreira é concursado e contratado pela Secretaria de Saúde, mas está cedido para trabalhar no hospital nos casos de Covid também participou da reunião e destacou a importância das medidas a serem adotadas no sentido da prevenção, pois como o tempo de internamento é maior, os reflexos demoram a ser sentidos. “Infelizmente, muitas pessoas só levam a doença a sério depois que um amigo ou um familiar sofre ou morre”, disse.


O superintendente do Sagrada Família, Renato Figueiredo, diz que devido à crescente de casos suspeitos, existem vários casos de afastamento de pessoal dentro da própria unidade. “Estamos tendo baixas importantes”, disse, mas não de pessoas com Covid-19, mas porque acabam tendo contatos com outras pessoas em suas casas com suspeita ou confirmação. “Por isso é importante que todos se cuidem”, destacou.

Figueiredo lembra que a substituição deste pessoal no momento é algo bastante complexo, primeiro pela falta de profissionais no mercado e, segundo, porque é necessário todo um processo de treinamento. Ele citou exemplo da equipe da farmácia do hospital, onde metade foi afastada, além de outros setores. “Logo, se chegar um infartado ao hospital, não vai ter assistência”, alertou.


À disposição - A secretária de Saúde, Carmen Binotto, também passou boa parte da noite e madrugada deste sábado no Hospital Sagrada Família, em contato com órgãos estaduais para tratar da transferência dos pacientes. Ela citou que Rio Negrinho colocou sua estrutura de saúde à disposição de São Bento do Sul para auxiliar no que for necessário. “A região do Planalto Norte é a última onde a maior gravidade chegou dentro de Santa Catarina e estamos vivendo esse momento agora”, alertou.

Ação em conjunto - Participaram da reunião o prefeito de Rio Negrinho, Caio Treml, o secretário de Saúde rio-negrinhense, Rafael Schroeder, a secretária de Saúde de Campo Alegre, Rosane Greipel, e o chefe de Gabinete campo-alegrense Jeison Osovski. Na próxima semana ocorre uma reunião entre as três prefeituras para que sejam tomadas medidas em conjunto, pois não adianta uma cidade restringir certas ações, pois as pessoas vão às cidades vizinhas.


Fiscalização - A fiscalização às regras dos decretos municipais e estadual vai ser intensificada. Dos quatro fiscais da Vigilância Sanitária, dois vão atuar exclusivamente nas questões ligadas à Covid-19. A maior preocupação, no entanto, dizem respeito às festas clandestinas.

Neste ponto, o delegado regional Odair Rogério Sobreira Xavier diz que a Polícia Civil tem atuado no sentido de evitar os eventos. Ele citou que na semana passada foi identificada uma festa com 50 participantes e os policiais conseguiram agir antes do evento, coibindo a aglomeração.


Além disso, tramita na Câmara de Vereadores de São Bento do Sul um projeto de lei enviado pela Prefeitura no final de março, por meio do qual se amplia o valor de multas e penalidades para quem desrespeitar as regras de enfrentamento à Covid-19 e os agentes de trânsito vão ter poder para atuar como fiscais sanitários. A presidente do Legislativo, Carla Hofmann, vai dar celeridade na análise e votação na próxima semana.

Ainda no ponto da fiscalização, a diretora do Centro de Vigilância à Saúde, Silvana M. Bianco Baue, lamentou as agressões pelas quais passam os fiscais nas festas clandestinas. E diz que este tipo de atuação deve ser feita em conjunto com a polícia para que se tenha escolta armada.


Educação - Um dos pontos mais citados na reunião emergencial deste sábado é quanto à falta de respeito da população quanto às regras para enfrentamento da Covid-19. O secretário de Saúde de Rio Negrinho, Rafael Schroeder, citou que quando não existe respeito às regras por parte de alguns, é a sociedade como um todo que sai prejudicada. “Chegou a hora da sociedade assumir a sua responsabilidade, não é só do poder público. A culpa dos hospitais cheios é das pessoas que não se cuidam e não do poder público que tem feito de tudo”, disse.


O prefeito Antonio Tomazini também lamentou o descumprimento das regras e da falta de colaboração da população. E, caso a situação não melhore nos próximos dias, não se descarta a criação de regras mais rígidas no município, com restrições de horários. “A população infelizmente não está colaborando”, disse.


Para o promotor de Justiça, Marcos Schlickmann Alberton, o senso de responsabilidade da população está muito baixo e as pessoas não estão mudando de postura. Conforme o delegado Sobreira, as medidas feitas até agora são pouco eficazes porque a população não respeita e não tem consciência de que aquilo é importante para sua própria segurança.

Sobreira diz que nas ações de fiscalização da Polícia Civil muitos estabelecimentos cumprem as regras, mas existem clientes que não querem respeitar. “Muitos dos clientes não gostam das ideias e afrontam as recomendações. São os mesmos que vão fazer suas reuniões e churrasquinhos pra ficar postando nas redes sociais”, criticou.


Viviane de Vargas Miranda

Assessoria de Comunicação Prefeitura de São Bento do Sul


Comments


bottom of page